O ministro brasileiro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o Brasil vai disponibilizar-se à China para “substituir” os Estados Unidos no fornecimento de carne de bovino.
A “oportunidade”, como lhe chamou Fávaro, surgiu a partir de um ato do governo chinês que, em pleno avanço da guerra tarifária norte-americana, retirou a autorização a quase 400 produtores dos EUA para vender carne de bovino à China.
“Alguém vai precisar de fornecer esta carne, que era fornecida pelos norte-americanos. O Brasil apresenta-se, com muita vontade e capacidade, e tenho a certeza que vamos saber ocupar este espaço e ser um grande fornecedor”, disse Carlos Fávaro à imprensa.
O ministro afirmou que o esforço do Governo brasileiro para alargar a venda de proteínas no mundo não se limita à China.
Segundo disse, têm também decorrido negociações com o Japão, a partir de um acordo assinado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) numa visita ao país em março.
O ministro da Agricultura afirmou que os representantes da alfândega chinesa deverão reunir-se com o Governo brasileiro na próxima terça-feira para tratar da expansão comercial entre os países, além de debater a adoção de protocolos conjuntos.
As negociações entre as áreas técnicas do Brasil e da China podem pavimentar as negociações entre o Presidente Lula e o Presidente chinês, Xi Jinping. Com viagem marcada para maio, Lula deverá colocar a expansão comercial na agenda com a China.
Quando questionado se o Brasil tem estrutura para substituir totalmente os EUA no mercado chinês, Fávaro disse que o país “não pode ter essa pretensão”.
O ministro afirmou, no entanto, que, “sem sombra de dúvida”, o Brasil é um dos “muito poucos” países do mundo capaz de expandir a área produtiva em dezenas de milhões de hectares.
“Certamente, gradualmente, o Brasil será a segurança alimentar. Não só para a China, mas para todos os países do mundo”, afirmou.
As declarações do ministro ocorreram num dos intervalos de uma reunião entre ministros da Agricultura dos Brics, um bloco criado para fomentar a cooperação entre 11 economias emergentes, como a China e a Rússia, e que tem, este ano, o Brasil na presidência.
De acordo com Fávaro, embora o encontro não tenha sido convocado devido ao “tarifaço” americano, parte das discussões foi sobre mecanismos para os países dos Brics ultrapassarem obstáculos criados por barreiras comerciais e protecionismo.
Um dos pontos tratados e defendidos em consenso pelo bloco, afirmou o ministro, é a necessidade de alargar o comércio de produtos agrícolas intrabloco.
A proposta discutida com a China pelas autoridades, segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, é sincronizar alguns processos regulatórios.
“Alguém começa a desenvolver um protocolo para registar um produto e isso demora tempo. No Brasil é muito rápido. Fica pronto, e, quando se regista, eu preciso de abrir o mercado para esse produto. Começam a registar do outro lado do mundo e o processo demora lá. O produto está aqui na prateleira e não pode ser comercializado”, diz o ministro.
Com o acordo de cooperação discutido, os dois países poderiam partilhar informação técnica e testes já realizados, o que agilizaria as análises dos organismos chineses.
Por exemplo, se já houver verificação no Brasil de que o produto não causa danos ao ambiente, este dado poderá ser considerado pelas autoridades chinesas, encurtando prazos.
O ministro sublinha ainda que o sincronismo na aprovação das biotecnologias traria ganhos não só comerciais, mas também tecnológicos para o Brasil.
“A China está a evoluir na edição genética. E o Brasil tem muito interesse nisso. Então, à medida que estão a pesquisar e a protocolar aqui no CTNBio, começamos a ter cooperação, para quando o produto estiver validado lá na China, com eficiência e segurança, podemos comprar aqui e utilizar esta tecnologia”, disse o ministro.
O ministro afirma ainda que, com a escalada da guerra tarifária entre Pequim e Washington, alguns acordos comerciais entre o Brasil e a China deverão ser “acelerados”.
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é o organismo responsável pela formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança (PNB) dos organismos geneticamente modificados (OGM).