Pela primeira vez na história recente do comércio exterior, o Brasil iniciou o ano com um inédito déficit nas trocas comerciais com a China, que desde 2009 é o principal parceiro do país nas trocas internacionais.
Em janeiro, a balança bilateral fechou com um superávit chinês de USD 583 milhões. O saldo resultou de exportações brasileiras no montante de USD 5.470 bilhões e vendas do gigante asiático no total de USD 6,052 bilhões, segundo dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Em janeiro, as exportações para a China tiveram uma forte contração de 30% e essa queda refletiu-se na redução da participação chinesa no total global das vendas externas brasileiras no período, que correspondeu a 24,7% em 2024 e baixou para 21,7% em 2025.
Em 2024, as exportações brasileiras para o país asiático somaram USD 7,890 bilhões (alta de 53,1% comparativamente com janeiro de 2023).
A transformação de uma balança fortemente superavitária em um déficit surpreendente deveu-se sobretudo a uma expressiva retração dos embarques nos três principais itens de exportação para o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009: petróleo, minério de ferro e soja, que chegaram a responder por 80% das vendas totais aos chineses e este ano recuaram para 61% no último mês de janeiro.
As exportações de petróleo somaram USD 1,58 mil milhões (queda de 38% ou USD 963 milhões), correspondentes a 29% de todo o volume embarcado para a China. Em relação ao minério de ferro, as exportações totalizaram USD 1,43 mil milhões, com uma contração de 27%, equivalentes a USD 517 milhões e uma fatia de 26% nos embarques totais.
Líder até recentemente das exportações para a China, a soja brasileira sofreu corte de 68% para USD 316 milhões, equivalentes (menos USD 677 milhões em receita) e equivalentes a apenas 6% dos embarques totais para o mercado chinês.
Neste contexto, a China alcançou um surpreendente aumento de 19,6% nas exportações para o Brasil, que somaram USD 6,052 bilhões. Com isso, a participação chinesa nas importações brasileiras passou de 24,7% em janeiro de 2024 para 26,1% no mês passado.
Segundo José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), será necessário aguardar “três ou quatro meses para uma definição mais precisa sobre o que deverá ser o intercâmbio com os chineses em 2025”.
O especialista chama a atenção também para as transformações profundas no comércio exterior com as taxações impostas pelo presidente Donald Trump nas trocas comerciais com os principais parceiros dos Estados Unidos no comércio exterior, com profundos reflexos em todo o mundo e, consequentemente, no Brasil.