A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) brasileiro, Tatiana Prazeres, afirma que a complexidade na relação comercial com a China “veio para ficar”, incluindo a concorrência de importações chinesas.
“A complexidade vem para ficar. Ao mesmo tempo em que a China é um destino cada vez mais relevante para as exportações, a indústria brasileira sente a pressão da competição chinesa em alguns segmentos”, afirmou Prazeres em entrevista à CNN Brasil.
“O resultado é o volume recorde de pedidos de defesa comercial, pedidos de investigação antidumping. E a China é o principal origem para a qual o setor privado demanda investigação”, adiantou.
A China é o maior importador de produtos brasileiros desde 2009 e principal responsável pelo superávit da balança comercial do Brasil. Em 2023, foram registados USD 104,3 mi lmilhões em vendas para o país asiático. “E é uma relação com potencial para crescer, diversificar e agregar valor”, indica a secretária.
O problema está nas importações, com riscos que são resultado da conjuntura geopolítica atual. A elevação de barreiras tarifárias por centros como os Estados Unidos e a União Europeia contra a China leva setores de sua economia a “despejarem” produtos em outras localidades, como o Brasil.
“Neste cenário descrito, pode haver excesso de oferta na China, levando a importação, em alguns casos, de grande volume com preços baixos, em práticas desleais de comércio. Não é algo generalizado, mas em alguns casos ocorre. E este é um momento em que acompanhamos isso com muita atenção por conta da nossa visão de que é importante fortalecer a indústria no país”, afirmou Prazeres.
“E a complexidade não para por aí. Cada vez mais o Brasil importa insumos e bens de capital da China. Então, para os setores que produzem estes itens, a concorrência chinesa é preocupante, mas para os setores que dependem destes itens para a competitividade na sua própria produção, a importação da China interessa. A relação sob ponto de vista comercial com a China envolve essa complexidade”, adiantou.
O presidente eleito norte-americano, Donald Trump, promete estabelecer mais tarifas aos bens chineses, cujos produtores terão de procurar novos mercados.
“O movimento tem a ver com o fato de que alguns mercados relevantes vêm adotando restrições a produtos provenientes da China, e isso afeta o fluxo de comércio. Se deve também ao ritmo de crescimento menor da China, que tem capacidade produtiva muito expressiva. Assim, há uma preocupação do desvio de fluxo comercial para o Brasil”, afirmou a responsável do Mdic.
Ao longo do mandato, o governo Lula adotou medidas para proteger deste movimento siderúrgicas e químicas, por exemplo. Enquanto os defendidos celebraram, indústrias nacionais que dependem da importação destes insumos para produzir outros bens, criticaram, pontua Prazeres.
“Químicos e siderúrgicos são bons exemplos. Tanto químicos quanto siderúrgicos são muito sujeitos a medidas de defesa comercial. São setores de produção contínua, você não interrompe a produção sem custos muito relevantes. E setores que dependem destes itens temem ter mais custos”, adiantou Prazeres.