O stock de investimento direto estrangeiro chinês no Brasil é de cerca de USD 72 mil milhões, com a energia a representar cerca de três quartos desse investimento, revelou Marcos Galvão, embaixador brasileiro na China.
“Um aspecto visível disso é a chegada de empresas chinesas de veículos elétricos ao Brasil”, apontou Galvão num fórum organizado pelo Instituto de Estudos Financeiros de Chongyang da Universidade Renmin da China.
A fabricante chinesa de veículos elétricos BYD está presente no Brasil há mais de 10 anos e, hoje, o Brasil é o maior mercado da BYD no exterior. No setor automotivo, também a chinesa GWM abrirá uma fábrica em Iracemápolis, estado de São Paulo, em maio.
Segundo o diplomata, o envolvimento da China na infraestrutura energética do Brasil também está a expandir-se.
O consumo de eletricidade do Brasil está concentrado nas regiões sul e sudeste, enquanto o norte é rico em recursos hidroelétricos. Isso requer transmissão de eletricidade de longa distância com perda mínima de energia.
“Temos áreas com capacidade de geração excedente, e a China tem tecnologia de transmissão de ultra-alta tensão”, afirmou Galvão.
O projeto de transmissão de fase II de Belo Monte no Brasil — investido, construído e operado pela State Grid Corp of China (SGCC) — é o primeiro projeto no exterior a usar a tecnologia de transmissão de ultra-alta tensão chinesa, que permite a transmissão de energia do norte para áreas de alto uso de eletricidade.
“Queremos que a China desempenhe um papel em nossa reindustrialização, particularmente na transição energética e no desenvolvimento de tecnologia, pois queremos uma indústria mais forte e competitiva com produtos de maior valor agregado”, disse Galvão, pedindo maior investimento de empresas chinesas para aprimorar as capacidades industriais do Brasil.
Como este ano marca o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Brasil, “a visita do presidente Xi Jinping (ao Brasil) foi o ápice das celebrações que foram precedidas pela visita do vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin (à China) em junho e pela realização do comité de alto nível que temos entre os dois países”, disse Galvão.
“A China e o Brasil são dois países importantes”, disse ele
Refletindo sobre seus mais de dois anos como embaixador na China, Galvão compartilhou sua admiração pelo desenvolvimento da China. “Estou impressionado com a diversidade das províncias da China, o dinamismo de suas cidades”, disse ele. “O que vi na China é semelhante ao que temos no Brasil.”
Ele enfatizou a “alta complementaridade” entre as duas economias, que segundo ele, são “altamente relevantes” uma para a outra.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, e o Brasil é o nono maior parceiro comercial da China. Em 2023, o comércio bilateral entre China e Brasil atingiu mais de USD 180 bilhões, um aumento anual de 6,1%, de acordo com estatísticas alfandegárias chinesas.
Olhando para trás, para 50 anos de laços bilaterais, Galvão disse que o relacionamento é construído com base no respeito mútuo, um resultado tanto da “determinação política quanto dos esforços de ambos os lados”.
“Neste mundo de nearshoring e friendshoring, no nosso caso, é uma história de trustshoring — confiamos uns nos outros”, ele acrescentou.