A visita de Xi Jinping a Brasília, na semana passada, traduziu-se na assinatura de 37 acordos de cooperação, visando estimular investimentos em áreas como a industrialização, agronegócio e infraestruturas.
Autoridades do Brasil e da China vão discutir, em conjunto, quais as obras dentro do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Nova Indústria Brasil (NIB), do Plano de Transformação Ecológica e do Programa Rotas de Integração Sul-Americana receberão aportes, e os primeiros resultados devem ser definidos em dois meses, segundo o Correio Braziliense.
Neste último programa, os asiáticos vão cooperar com a iniciativa brasileira de interligar os países da América do Sul, incluindo acesso ao megaporto de Chancay, no Peru, recém-inaugurado pelo governo de Xi Jinping. Quando as obras forem concluídas, as exportações brasileiras para a China terão que percorrer um caminho muito menor.
Ainda na área de investimentos, outro marco foi alcançado: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o China Development Bank (CDB) fecharam o primeiro empréstimo na moeda chinesa, o renminbi, e não em dólar. O CDB aportou RMB 5 bilhões, cerca de R$ 4 bilhões, com prazo de pagamento de até três anos. O valor foi agregado à carteira de investimentos do BNDES. Diminuir a dependência do dólar para transações financeiras é um dos objetivos tanto do Brasil quanto da China, assim como dos demais integrantes do grupo BRICS.
O agronegócio, principal setor económico na relação entre os dois países, também foi beneficiado pelos acordos. Eles incluem a abertura do mercado chinês — com 1,4 bilhão de consumidores — para quatro novos produtos: uvas; sésamo; farinha e óleo de peixe, além de outras proteínas e gorduras de pescado para alimentação animal; e sorgo. Os documentos definem os requisitos fitossanitários para a venda dos produtos, ou seja, protocolos e normas de segurança que devem ser seguidos. Outros dois pactos incluem a cooperação para regulamentação e tecnologia de pesticidas, e cooperação técnica, científica e comercial no setor agrícola.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), os novos mercados, com a autorização da venda de noz-pecã para a China, podem render até USD 500 milhões a mais por ano. Atualmente, o país asiático é o principal destino do agro brasileiro e, em 2023, importou USD 60,24 bilhões em produtos, especialmente soja, milho, açúcar, carnes bovina, suína e de frango, celulose e algodão. O Mapa também destacou o acordo feito com a cafeteria chinesa Luckin Coffee um dia antes da visita do presidente Xi, que envolve a compra de 240 mil toneladas de café brasileiro entre 2025 e 2029, com valor estimado em USD 2,5 mil milhões.
Em tecnologia, os acordos de cooperação incluem áreas, como a indústria fotovoltaica, tecnologia nuclear para fins pacíficos — como a produção de medicamentos — aceleradores de partículas, inteligência artificial, mecanização e IA para agricultura familiar, economia digital e internet por satélites. Esse último inclui um acordo com a SpaceSail, concorrente chinesa da americana Starlink, do bilionário Elon Musk, que atualmente fornece internet para órgãos públicos em locais remotos.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, com um fluxo de USD 157 mil milhões no ano passado, sendo USD 51,1 mil milhões de superavit para o lado brasileiro. A maior parte das exportações brasileiras é do agronegócio, e as importações são, maioritariamente, componentes eletrónicos e produtos industrializados.