O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, prometeu durante uma visita a Macau reforçar o ensino da língua chinesa em Portugal, que irá receber este ano uma visita do chefe do Governo da Região Administrativa Especial chinesa.
“Com as autoridades chinesas fiz questão de dizer que nós nos vamos empenhar muito no ensino do chinês em Portugal”, disse o chefe da diplomacia portuguesa, após uma visita de três dias à China continental.
Na capital, Pequim, Rangel encontrou-se com o homólogo chinês, Wang Yi, antes de se reunir com o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, na ilha de Hainão, onde decorreu a conferência anual Fórum Boao.
“A situação hoje é muito melhor do que era há 20 anos (…). Já temos, de facto, uma capacidade de formação que não tínhamos de todo”, disse Paulo Rangel, numa receção à comunidade portuguesa em Macau.
Além de licenciaturas em língua e cultura chinesas, o Instituto Confúcio, sob a tutela de uma agência governamental, garante cursos livres de mandarim em cinco universidades portuguesas: Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Minho.
A formação de pessoas fluentes em mandarim “é decisivo também para o nosso futuro”, mas “não é suficiente para os desafios que temos pela frente”, alertou Paulo Rangel.
Na terça-feira, o ministro tinha pedido às autoridades de Pequim que promovessem mais o ensino do chinês além-fronteiras, particularmente na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Perante um grupo de estudantes chineses durante uma palestra numa universidade no norte de Pequim, Rangel defendeu ainda que “Portugal é um país antigo, mas o português é a língua do futuro”.
“É a língua mais falada no hemisfério sul e, até 2100, haverá mais de 600 milhões de falantes de português”, previu o chefe da diplomacia portuguesa, num auditório com mais de cem alunos da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (‘Beiwai’).
Rangel indicou ainda que o líder do Governo de Macau vai visitar Portugal este ano e que as restrições à residência de portugueses estão na agenda bilateral.
Sam Hou Fai deverá visitar Portugal “imediatamente antes de agosto ou em setembro”, disse o chefe da diplomacia portuguesa aos jornalistas, depois de um encontro com o chefe do Executivo de Macau.
Rangel sublinhou que é o primeiro ministro de Negócios Estrangeiros a visitar Macau desde a tomada de posse, em 20 de dezembro, de Sam Hou Fai, cuja visita a Portugal será a primeira deslocação ao estrangeiro.
“Há aqui claramente também um alinhamento das prioridades que é altamente simbólico”, disse o diplomata, à margem de um encontro com a comunidade portuguesa em Macau.
Rangel disse que o “seguimento do diálogo” encetado hoje com Sam Hou Fai acontecerá numa reunião da Comissão Mista Portugal–RAEM, “que será organizada, em princípio, no segundo semestre aqui em Macau”.
O anterior líder do Governo de Macau, Ho Iat Seng, tinha anunciado para 2024 a sétima reunião desta comissão, criada em 2002, mas isso acabou por não acontecer.
Macau não aceita desde agosto de 2023 novos pedidos de residência para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território.
As orientações eliminam uma prática firmada após a transição de Macau, em 1999. A alternativa para um português garantir o bilhete de identidade de residente (BIR) passa agora por uma candidatura aos recentes programas de captação de quadros qualificados.
Outra hipótese é a emissão de um ‘blue card’, autorização limitada ao vínculo laboral, sem os benefícios dos residentes, nomeadamente ao nível da saúde ou da educação.
O embaixador chinês em Portugal, Zhao Bentang, disse à Lusa que a China pediu a Portugal para facilitar a entrada dos seus cidadãos, uma vez que há uma isenção de vistos desde outubro de 2024 para portugueses que se desloquem ao país asiático.
“A China já pediu à Europa, a Portugal, que facilite a entrada a cidadãos chineses. Se os portugueses podem ir muito facilmente à China para fazer negócios, os seus parceiros na China querem vir e não conseguem ou é muito difícil”, afirmou.
No final de setembro de 2024, a China anunciou o alargamento da política de isenção de vistos a cidadãos portugueses, em estadias até 15 dias, inserindo assim Portugal numa lista que abrangia outros 16 países europeus.
A medida entrou em vigor no dia 15 de outubro de 2024 e vigora até 31 de dezembro de 2025.